Tuesday, December 05, 2006

DVDteca (17) Luis Buñuel

BELLE DE JOUR (1967)

Buñuel nasceu em Calanda em 1900, tendo estudado num colégio de jesuítas em Zaragoza. Primogénito de um grande proprietário rural teve acesso à cultura em Madrid , onde conheceu e se tornou amigo de Garcia Lorca e Dali. Em 1925 muda-se para Paris onde descobre o cinema para lá de Harold Loyd e Buster Keaton.

Ein andalusischer Hund / Un chien andalou

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No ano seguinte torna-se assistente de Jean Epstein e, com a colaboração de Dali realiza a sua primeira curta metragem, "Un Chien Andalou", surreal e violenta história de desejo, inconsciente e ambiguidade sexual, que chocou os costumes da época e lhes abriu as portas do grupo de surrealistas.

Seguiu-se "L'Age d 'Or" filme maldito, censurado pelo governador de Paris. Em 1946 é convidado a filmar no México a adaptação de "A casa de Bernarda Alba" de Lorca. O projecto nunca se concretiza mas Buñuel fica pelo México vinte anos, onderealiza grandes filmes ( "Los Olvidados" "A febre sobe em El Paso") e filmes menores. Nos anos 60 sucedem-se as obras primas ( "Viridiana" e "Diário de uma Criada de Quarto") que com "Belle de Jour" formam uma trilogia. Provocador e herético, este homem que dizia "Sou ateu, graças a Deus"escandalizou ao transformar a Última Ceia de Da Vinci no banquete dos pedintes em "Viridiana". Jeanne Moreau é prodigiosa no papel de criada acossado pelo patrão e pelo seu filho (Michel Piccoli, com Fernando Rey a dupla de actores que Buñuel mais apreciava).

Depois de" Belle de Jour" ainda se seguiram os excelentes "Tristana"(1970), "O Chame Discreto da Burguesia" (1972) , "O Fantasma da Liberdade" (1974) e "Obscuro Objecto de Desejo (1977), onde politica e sexo se cruzavam, arenas de poder e repressão, pontuadas pelo humor negro de Buñuel.

Mas a sua obra mais marcante é "Belle de Jour" . Catherine Deneuve é Severine, jovem esposa de um bem sucedido médico passa os seus dias num prostíbulo, para aí satisfazer as suas fantasias sexuais, como bondage, dominação e submissão, acabando por se envolver com um gangster e ser descoberta por um amigo do marido. Ao rever hoje o filme, mais de vinte cinco anos depois de o ter visto no cinema, quase quarenta nos depois da sua produção, tenho a sensação de abrir um porto vintage.

O efeito de choque que terá tido em 67 está hoje mitigado, mas a arte de Buñuel, pelo contrário, evidencia-se ainda mais, liberta que está da aura de escândalo que acompanhou o filme à época da sua estreia.


O filme decorre entre o tempo real, flashbacks e as fantasias da nossa heroína. Buñuel narra-nos a história distanciando-se friamente. À superfície dá-nos a cor e o glamour do chic dos tailleurs Yves Saint Laurent de Séverine, em contraste com as mais negras fantasias e a ameaça de violência. O humor negro de Buñuel está ainda e sempre presente. Pleno de pequenos detalhes e revelações que parecem encaixar como um brilhante puzzle, o filme permanece belo e enigmático, provocador. O argumento de Buñuel e Jean Claude Carriére faz-nos andar em tantas direcções, que nos deixa aturdidos. Temos de decifrar o que é real e o que é fantasia. Que cenas representam os desejos de Séverine, e quais exprimem os seus medos, como se estivessem, receios e anseios, separados por uma finíssima linha invisivel. Tantas conclusões se podem tirar, todas tão diferentes e todas certas. Deneuve é excelente no papel de Séverine, plena de contenção, em que o menor dos sorrisos, o menor dos tremores tanto significam. Pierre Clementi, o gangster, Geneviéve Page, a madame, Michel Piccoli, o amigo, e Jean Sorel, o marido, completam o leque de personagens.


Belle de Jour é uma obra prima. Paixão e compaixão, uma delicada pérola. Imperdível

DVD: "Belle de Jour"(1967), €22 na amzon.uk. Para quem não tem recomendo também na amazon em janeiro de 2007 a "Luis Bunuel Collection". Por €50, uma caixa com "Belle de Jour", "Diário de uma criada de Quarto", "O Charme Discreto da Burguesia", "Obscuro Objecto de Desejo", "O Fantasma da Liberdade", "Tristana" e "A Via Láctea" .







Como nota final, Manuel Oliveira reencontra Séverine e Henri Husson 38 anos mais tarde em "Belle Toujours".

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