DVDteca (17) Luis Buñuel
BELLE DE JOUR (1967)
Buñuel nasceu em Calanda em 1900, tendo estudado num colégio de jesuítas em Zaragoza. Primogénito de um grande proprietário rural teve acesso à cultura em Madrid , onde conheceu e se tornou amigo de Garcia Lorca e Dali. Em 1925 muda-se para Paris onde descobre o cinema para lá de Harold Loyd e Buster Keaton.
Ein andalusischer Hund / Un chien andalou
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No ano seguinte torna-se assistente de Jean Epstein e, com a colaboração de Dali realiza a sua primeira curta metragem, "Un Chien Andalou", surreal e violenta história de desejo, inconsciente e ambiguidade sexual, que chocou os costumes da época e lhes abriu as portas do grupo de surrealistas.
Seguiu-se "L'Age d 'Or" filme maldito, censurado pelo governador de Paris. Em 1946 é convidado a filmar no México a adaptação de "A casa de Bernarda Alba" de Lorca. O projecto nunca se concretiza mas Buñuel fica pelo México vinte anos, onderealiza grandes filmes ( "Los Olvidados" "A febre sobe em El Paso") e filmes menores. Nos anos 60 sucedem-se as obras primas ( "Viridiana" e "Diário de uma Criada de Quarto") que com "Belle de Jour" formam uma trilogia. Provocador e herético, este homem que dizia "Sou ateu, graças a Deus"escandalizou ao transformar a Última Ceia de Da Vinci no banquete dos pedintes em "Viridiana". Jeanne Moreau é prodigiosa no papel de criada acossado pelo patrão e pelo seu filho (Michel Piccoli, com Fernando Rey a dupla de actores que Buñuel mais apreciava).
Depois de" Belle de Jour" ainda se seguiram os excelentes "Tristana"(1970), "O Chame Discreto da Burguesia" (1972) , "O Fantasma da Liberdade" (1974) e "Obscuro Objecto de Desejo (1977), onde politica e sexo se cruzavam, arenas de poder e repressão, pontuadas pelo humor negro de Buñuel.
Mas a sua obra mais marcante é "Belle de Jour" . Catherine Deneuve é Severine, jovem esposa de um bem sucedido médico passa os seus dias num prostíbulo, para aí satisfazer as suas fantasias sexuais, como bondage, dominação e submissão, acabando por se envolver com um gangster e ser descoberta por um amigo do marido. Ao rever hoje o filme, mais de vinte cinco anos depois de o ter visto no cinema, quase quarenta nos depois da sua produção, tenho a sensação de abrir um porto vintage.
O efeito de choque que terá tido em 67 está hoje mitigado, mas a arte de Buñuel, pelo contrário, evidencia-se ainda mais, liberta que está da aura de escândalo que acompanhou o filme à época da sua estreia.
O filme decorre entre o tempo real, flashbacks e as fantasias da nossa heroína. Buñuel narra-nos a história distanciando-se friamente. À superfície dá-nos a cor e o glamour do chic dos tailleurs Yves Saint Laurent de Séverine, em contraste com as mais negras fantasias e a ameaça de violência. O humor negro de Buñuel está ainda e sempre presente. Pleno de pequenos detalhes e revelações que parecem encaixar como um brilhante puzzle, o filme permanece belo e enigmático, provocador. O argumento de Buñuel e Jean Claude Carriére faz-nos andar em tantas direcções, que nos deixa aturdidos. Temos de decifrar o que é real e o que é fantasia. Que cenas representam os desejos de Séverine, e quais exprimem os seus medos, como se estivessem, receios e anseios, separados por uma finíssima linha invisivel. Tantas conclusões se podem tirar, todas tão diferentes e todas certas. Deneuve é excelente no papel de Séverine, plena de contenção, em que o menor dos sorrisos, o menor dos tremores tanto significam. Pierre Clementi, o gangster, Geneviéve Page, a madame, Michel Piccoli, o amigo, e Jean Sorel, o marido, completam o leque de personagens.
Belle de Jour é uma obra prima. Paixão e compaixão, uma delicada pérola. Imperdível
DVD: "Belle de Jour"(1967), €22 na amzon.uk. Para quem não tem recomendo também na amazon em janeiro de 2007 a "Luis Bunuel Collection". Por €50, uma caixa com "Belle de Jour", "Diário de uma criada de Quarto", "O Charme Discreto da Burguesia", "Obscuro Objecto de Desejo", "O Fantasma da Liberdade", "Tristana" e "A Via Láctea" .
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Como nota final, Manuel Oliveira reencontra Séverine e Henri Husson 38 anos mais tarde em "Belle Toujours".
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