Africa Minha (1) Mala Mala
Quando cheguei à Sabi Sand Game Reserve deparei-me com uma estrada em terra batida, com grandes buracos. Como é habitual fora do país, a Cristina conduzia e eu era o navegador. Mas na terra batida a Cristina guiava a passo de caracol. Avistamos as primeiras impalas, gnus e zebras. Mas era tarde. Tínhamos o primeiro safari no Mala-Mala marcado para as quatro e meia e passava das quatro. Peguei no volante e pensei que era o Hannu Mikkola. Não tinha andado dois quilómetros e já tinha rebentado um pneu. No meio do mato. Na terra dos leões e leopardos. Elefantes e rinocerontes. Pensei, sair do carro é que não saio, o carro não é meu, que se lixe, são só meia dúzia de quilómetros, vamos mesmo com o pneu furado. Não fomos. A dada altura estava na jante.
O pneu suplente estava na mala. Com a Cristina de olho na bicharada tirei a bagagem e coloquei-a no banco de trás. Tirei o pneu, encostei-o na traseira do carro e peguei no macaco. Nessa altura passa um carro em sentido contrário. Para o deixar passar tive de descer a pequena encosta para encostar na berma. O condutor do outro carro perguntou: “You guys need help?”. Claro que como qualquer latino valente disse “No thank you”. Ele seguiu e a Cristina voltou atrás para apanhar o pneu. Baixei.me para levantar o carro com o macaco. Nisto ouço o grito lancinante da minha senhora. Pensei, estamos perdidos. Mas não era o leão. Era o pneu que resvalava encosta abaixo e fugia da Cristina. O macaco enterrava-se na terra e não levantava o carro. É então que passa uma carrinha com funcionários do Londolozi ( um outro hotel da reserva). Desta vez não hesitei e aceitei a ajuda. Levantaram o carro a peso e puseram uma enorme pedra por baixo do carro. E lá segui até ao Mala-Mala novamente como navegador.
Chegamos ao hotel eram quase cinco. Sujos. Feito o check-in disseram-nos para tomarmos calmamente um duche e irmos ter ao bar. Num cenário idilico serviram-me um chá com scones. Conheci o meu guia , o Chad. E um casal argentino que seguiria connosco no enorme Land Rover. Eram cinco e meia quando arranquei para o safari. Dez minutos depois quando olhava para uma impala ouvimos o rugido de um grande gato. Era um leopardo que já tinha o pescoço da impala entre os seus dentes.
As senhoras sentiram-se incomodadas. O estrangulamento ainda durou uns minutos. Depois o leopardo trepou uma árvore com a sua presa e ali ficou a descansar. Nós olhavamos para ele à sombra da mesma árvore.
Seguiram-se girafas, manadas de elefantes (um deles com meteorismo). Kudus, waterbucks, gnus e zebras. E três chitas que pareciam gatinhos ao sol.
Era já noite quando via rádio o Chad foi alertado para uma “pride” (alguém sabe a palavra em português?) de leões que caçavam. Lá fomos ter com eles. Mete respeito. Num jipe descapotável, com leões à direita e à esquerda, que só víamos quando os guias apontavam os focos. Acabaram por nada caçar e embrenharam-se no Kruger pelo que não os pudemos seguir. Voltamos ao quartos para jantar. Na boma com o Chad e os argentinos. Sem o requinte dos vizinhos Singita e Londolozi, alta cozinha servida ao ar livre no meio do mato, acompanhada por um Shiraz de Stellenbosch, excelente, e um Partagas Corona oferecido pelo argentino.
No dia seguinte acordamos às cinco da manhã e tomamos chá no quarto.
Enjoamos as impalas. Passamos pelo meio duma manada de búfalos e assistimos ao nascimento e aos primeiros passos de um bufalozinho.
Voltamos a ver as chitas e o leopardo. Uma leoa arreganhou-nos a taxa.
Voltamos para o pequeno almoço e fomos descansar para a varanda do quarto, uma vez que declinámos o safari a pé.
Depois de um almoço ligeiro e uma retemperadora sesta, novo safari. O ponto alto foi a investida de um rinoceronte mal disposto.
Enjoamos as zebras e os kudus. Os nossos olhos percorriam a selva à procura de predadores. Vimos hienas, wild dogs e chacais.
E javalis que correm de rabo espetado e se ajoelham para comer. Leões nem vê-los. As chitas sempre de papo para o ar. À noite fomos num Cabernet Sauvignon e um Cohiba Siglo IV do argentino.
Saciadas, limparam o focinho sujo de sangue e foram-se deitar. Estávamos encharcados de água, mas satisfeitos. Diz o Chad que tivemos muita sorte. Não se lembrava de ter hóspedes que em apenas dois dias viram leopardo e chitas a matar. Já podíamos voltar ao hotel. Enregelados, mas com a alma bem quente. Da adrenalina.
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