Friday, November 10, 2006

TABLES DU MONDE (16) La Alqueria

Uma vez que a Cala Montjoi ( a 170 km de Barcelona) fica fora de mão, quem quiser provar as criações do “melhor chef do mundo” tem de ir à Hacienda Benazuza, ao Alqueria. Dirigido por Rafa Morales no Alqueria (2 * Michelín) degusta-se um menú surpresa composto pelas obras primas de Ferrán Adría e do el Bulli dos últimos anos. Fruto da seu génio e tecnologia.

Recordo a abrir num dos jantares um mágico gin fizz quente e frio, e noutro uma infusão com nitrogénio gelado de caipirinha. Nas entradas os marshmalows de parmesão e os crocantes de “Oreos” com azeitona preta e iogurte.



E o ravioli gelado de anis com toffee, mistura de doce com salgado, numa composição curiosa e de grande beleza.

A desconstrução do "pan con tomate" catalão, biscoito recheado com azeite e alho e sorvete de tomate. E o que dizer do melão grelhado com tomate em redução de balsâmico. Impar.

E a "minestrone de verduras , fabulosa.

Menu bizarro, com muito humor, trabalho infernal movendo o nosso palato em redor de diferentes sabores, texturas, acidez, viscosidade, calibrando o paladar para o que se seguia.

Da segunda ronda de tapas lembro um crisp de ibérico, o sorvete de pistachio e trufa, e o fabuloso ravioli de ervilha com salada.

E que dizer do “falso” caviar de meloa, servido em latas de caviar. “Ovas” produzidas depois de vaporizar a meloa, que logo condensa gota a gota, num apetrecho especialmente criado para este prato. E depois explodem no nosso palato.

Noutro jantar encantaram os ravioli de beterraba com pistachio e framboesa.


Seguiram-se os clássicos Tagliatelle de consomé à Carbonara, um dos pratos mais celebrados de Adrià, pela tecnologia e criatividade.


A santola com horchata de trufas, ou as migas com trufas de verão , os Camarões Tigre com parmesão e a Ventresca de Atum com cassis e eucalipto, casamento original, mas de uma harmonia perfeita..



Noutro dia, o prato principal foi um simples bife do lombo com uma redução de vinho tinto que o Manuel ainda anda à procura de encontrar apesar das inúmeras tentativas com a receita encontrada nos livros de Adrià. E um sargo suculento, com uma textura e sabor únicos.

As sobremesas eram na mesma linha, destacando-se a crema catalana com limão e o caviar de chocolate.


Beberam-se vinhos de Priorat, o Clos Mogador e o Finca Dofi, soberbos.

Mais do que uma refeição, comer nos restaurantes de Adrià é uma celebração. Da cozinha e da comida, da creatividade e arte. Se Alain Ducasse é bebop, Adrià é freejazz. Se as lulas recheadas do Mário são Boticceli, Adrià é Rothko. Ou a sinestesia de Kandinsky. É uma experiência única, enriquecedora, mas que exige uma mente aberta. Para quem a tem jantar no Alqueria é uma fiesta. Divertimento e prazer. Àlvaro de Campos diz que “a melhor maneira de viajar é sentir”. Com Adrià viajamos pelos sentidos. Proibidos. Únicos.

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