Wednesday, June 06, 2007

Cenas em Cancun

Antes de viajar até Cancun contactei alguns amigos que por lá tinham passado. Onde jantaram, foi a pergunta. Uns, viajando com crianças, optaram pelo all-inclusive. Escolha sensata, mas redutora. Outros foram até lá ainda muito jovens, ou até em lua de mel. Só se lembram de jantares muito animados, muitamúsica, muito alcool, empregados e clientes aos saltos.

Também quis conhecer esses espaços animados. Concluí que estou velho. Pois não me animou nada ter de subir às cadeiras sob ameaça de ser molhado, nem me senti tentado pelos shots ou gelatinas de vodka que me eram oferecidos enquanto "jantava". Umas ribs sofríveis e uns camarões lastimáveis. Valeram as Margheritas, excelentes, numa visita de interesse antropológico, para estudar as hordas de jovens liceais americanos, que em viagem de finalistas, alegremente se alcoolizavam no Señor Frog's.

Mas fomos em busca dos bons restaurantes de Cancun. Começamos pelo Blue Bayou, onde após uma prova de agradáveis vinhos argentinos monovarietais La Terraza, se seguiu um agradável jantar. Que começou com um aspecto comem a todos os restaurantes visitados. Pão excelente, de fabrico próprio, com diferentes aromas e texturas, e sempre quente. Um Lindemans Cawarra Semillon Chardonay foi o complemento ideal para uma suculenta Lagosta Thermidor e uns Fettucini alla Spinaca com Vieiras e Camarão. A sobremesa, apesar da companhia de uma banda que tocava jazz standards, foi uma desilusão.

No dia seguinte atacamos o Lorenzilllo, restaurante de mariscos que na sua decoração me fez lembrar os bons restaurantes de peixe de Seattle. Grandes decks de madeira, sobre a laguna e o pôr do sol. Provaram-se umas Almejas ao natural, mesmo natural, ou seja cruas. Com lima e um molho vinagrete, revelaram-se uma experiência interessante. Já a Sopa de Mariscos, apesar da quantidade dos ditos, foi mediana. Quem optou pelo Fettucine Marinara ficou claramente a perder para a Lagosta a la Diabla, fresquíssima, e com um molho spicy que muito beneficiou da água Voss e do Viognier Santa Julia. Finalizou-se em grande com um Volcan de Chocolate, sublime.

Ao terceiro dia, fomos ao Dolce Vita que passa por ser o melhor restaurante italiano de Cancun. Sobre a laguna, e com a água iluminada atraindo os peixinhos. Depois de umas Berenjenas Gratinadas, que ficam a milhas das da Crstina Cecchini, provou-se a especialidade da casa.

O Boquinete Dolce Vita, um filete de mero com cogumelos e camarão envolto em massa folhada. Bonito no aspecto, razoável na boca. O melhor do jantar acabou por ser o Cabernet Sauvignon Malbec Domainne Baron Rotschild Catena. No Dolce Vita jantamos bem, mas esperava-se mais.

Seguiu-se um clássico, o Habichuela, com 30 anos é um dos restaurantes mais antigos de Cancun. Num pátio com decoração Maya e árvores que nos envolvem, o ambiente é acolhedor. Escolheu-se um clássico, o Crema Habichuela, uma agradável creme de feijão verde e alho francês e uma Sopa de Mariscos, que mais uma vez desiludiu.





Seguiu-se a Cocobichuela, um caril de camarão e lagosta servido dentro de um coco, que estava óptimo. A lembrar um caril em casca de ananás comido em Krabi, embora este estivesse bem mais potente.

A senhora foi num Corazon de Filet, de carne tenríssima e muita bem temperada. O vinho provado foi um Catena Malbec 2004. A sobremesa foi uma flamejante Crepa Suchard,preparada junto à mesa, sendo maior o espectáculo que o proveito. Por falar em espectáculo vimos passar uma espetada de lombo em chamas e a Caesar Salad é preparada igualmente na mesa. Apesar de não deslumbrar, este Habichuela proporcionou o melhor jantar até então.

Para o último dia guardou-se o Club Grill, restaurante do Hotel Ritz Carlton, para muitos o melhor de Cancun. Uma sala perfeita para um jantar romântico, com uma melódica voz que ao longe cantava êxitos de velhos crooners. No vinho, apesar da tentação do famoso Opus One continuamos pela Argentina, desta vez com um Catena Cabernet Sauvignon 2004, excelente e em crescendo ao longo do jantar. A água era Fiji. Nas entradas provaram-se o Canelonni crocante de escargots e confit de pato em redução de vinho tinto. Uma perfeita ligação de paladares e texturas, que tão bem casou com o Cabernet e só por si valia a refeição. A Cristina, por insistência do maître, pediu o Creme de Lagosta com tempura de Lagosta e Puré de Abacate. Dizia ela que já tinha tentado várias sopas de marisco em cancun e todas desiludiram. Ele respondeu que seria porque "ainda não provou a nossa". E tinha razão, já que este creme mereceu os mais rasgados elogios, por entre as interjeições que foram acompanhando a sua degustação. Continuou-se com Bochecha de Vitela Estufada e Petit Filet Mignon em molho de Blue Cheese e redução de Porto. Sou suspeito, porque sou um incondional das bochechas da vitela desde que com elas travei conhecimento em Ibiza. Mas estas estavam de morrer, e só é pena que fossem partilhadas com um Filet que estava fantástica, mas por melhor que seja nunca terá a intensidade da bochecha. Um portento, pois. A madame optou pelo Pato Assado, duas peças, peito e perna, com um molho de tequila e mel, que exaltou as virtudes do marreco. À sobremesa, préviamente encomendada, atacaram-se um fondant de chocolate com centro de pistachio e um Soufflé de Chocolate. Foi o final perfeito para um jantar de sonho. E com um serviço fabuloso. Já estive em alguns dos melhores restaurantes da Europa e EUA. Mas muito poucas vezes tive um serviço deste nível.

Este Club Grill salvou a honra gastronómica de Cancun. Os outros restaurantes citados proporcionaram jantares agradáveis. O do Club Grill foi inesquecível.