Subindo a Restauração, a meio vira-se à direita para uma inclinada Rua Sobre Douro. Quem entra pelo rés do chão não imagina que o espera a vista que permitiu a Teresa, do Convento de Monchique, despedir-se dum moribundo Simão. É que o restaurante fica numa das dependências do antigo Convento, hoje em ruínas. Sobre a Alfandega e o Douro.
A decoração, sóbria e de bom-gosto, a cargo do arquitecto Lourenço Roqui, um dos sócios, com paredes de pedra em tons cinza e mobiliário minimalista, iluminada, ao almoço pela luz que entra pelas janelas, e ao jantar, por discretos candeeiros e a luz de velas.
O chef é Francisco Meirelles, um autodidacta, que passou por New York ( onde seu irmão José é proprietário do Tintol ) e pelo comércio automóvel, e aqui dá asas à sua imaginação criando pratos originais.
Em visita recente provaram-se nas entradas o “Pattatu”, encontro de batata, fava e feijão com açafrão e chévre gratinado, numa harmonia de texturas e paladares. E uma fabulosa “Sapateira com abacate”, a frescura do puré de abacate abraçando os sabores marinhos da sapateira . Mas a entrada que recomendo é o “Foie Gras salteado com uvas e maracujá”. Um deleite, e um delito ( colesterol oblige). Para pecadores. Já tive oportunidade de o recriar em casa, com foie gras de melhor qualidade e acompanhado com um Sauternes Chateau d Yquem 2002. Saiu ainda melhor que o original.
Nos peixes recomendo o original “Bacalhau Dourado”, com o gadídeo, desfazendo-se em lascas, envolvido em espumoso e sápido polme assente em cremosa batata. E o “Rodovalho com Espargos”, sublime.
Nas carnes foram elogiados o “Carré de Borrego”, com feijoca e molho de alho, o “Peito de Pombo com chila” e de inspiração teutónica a "Batata Recheada", com carne de caça moída em seu molho espesso. Mas a minha predilecção vai para a “Mão de Vitela”, especiosa gelatina que se desfaz na boca e nos invade de sabores o palato, rindo-se do nosso mastigar, quase pedindo para não ser deglutida.
Nas sobremesas provou-se o “Brick de Maçã”, delicioso, e a “Tapioca de maracujá”, um mimo. Mas foram o “Souflé au Grand Marnier” e a premiada “Pera Glacée” os merecedores dos maiores encómios.
Tudo regado com um Madrigal, viognier da Quinta do Monte d'Oiro e um Quinta da Leda, que foram o complemento perfeito de um jantar de perdição.
Recomenda-se pois esta casa onde, de facto, quem se senta é tentado pela creatividade de Francisco Meirelles, que geralmente ao final da noite, no seu estilo blasé, vem fazer uma visita à sala.
Rua Sobre o Douro, 1A, Porto
Tel. 223406093
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Labels: gastronomia
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