Thursday, November 30, 2006

Radio Days


Esta manhã, na Antena 1 tive o prazer de ouvir este poema delicioso declamado pelo Murcon n'O Amor É.




Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo:
fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny

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Wednesday, November 29, 2006

Mesas da nossa terra (3) Martelo


O meu primeiro jantar de 2000 decorreu no Martelo em Falorca de Silgueiros. Já lá tinha estado em 87, num dia em que o FC Porto ganhou a Taça Intercontinental debaixo de neve. Desta vez, Depois de um reveillon em Lamego resolvemos ir jantar ao Martelo. na estrada, as madames quando foram percebendo que íamos percorrer 80km interrogavam-se se não haveria restaurantes em Lamego. Á medida que o tempo passava os seus vitupérios seguiam em crescendo. A coisa estava já perto da ruptura, com telefonemas de carro para carro, quando finalmente chegamos.

Senhoras e crianças deixadas à porta, os cavalheiros foram estacionar as viaturas, já no Martelo não há valet parking. Quando entamos dentro do antigo curral, em austero granito beirão, hoje restaurante, as senhoras estavam sentadas junto à lareira, à volta dum cremoso queijo e um bem curado presunto. E já eram só sorrisos. Numa mesa com bancos corridos lá nos sentamos. O pão, os enchidos e as azeitonas, óptimos, serviam de lastro para o Dão de produção própria que o sr. Martelo esmeradamente vertia para os nossos copos.

Já estávamos compostos quando chegou o cabrito do monte assado na brasa, começou a chegar o chibinho. Perfeito na sua simplicidade, acompanhado por batatas a muro, dos melhores cabritos que provei. Jantar animado pelas interpelações do nosso anfitrião que, vá lá saber-se porque artes mágicas, conseguia manter os nossos copos sempre cheios do excelente tinto. À sobremesa, que não recordo, faces ruborizadas e almas animadas, cruzaram-se anedotas entre a nosso grupo e a de outros cidadãos de Matosinhos que por lá se amesendavam. E a findar o Daniel cantou o fado. Para a posteridade, arquivados nas paredes do restaurante, ficaram os retratos que uma então jovem (7 anos) Sofia fez dos comensais, com um inusitado poder de observação, por vezes mordaz na sua inocência, nos levou a gargalhadas incontroláveis.

No regresso os mais corajosos passaram o volante às suas esposas. Atitude avisada porque o gelo era perigoso. O da estrada também, mas falava do que estragava o Cardhu. E afinal, disseram as senhoras, valeu a pena a viagem.

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Vinhos para o Natal

Entre a Tio Pepe e a Loja Gourmet do El Corte Inglês abasteci-me de vinhos para a quadra natalícia.

Nos Brancos fui até ao Sul do País. Do Alentejo trouxe o "Esporão Private Selection 2005" , um Semillon que combina o Antão Vaz e o Fernão Pires, depois estagiando seis meses em barricas de carvalho novo, com batonnage. O 2004 era, para mim, o melhor branco português.

Candidato a esse estatuto é o "Vindima 7 de Outubro 2003 Viognier" da Quinte do Monte d'Oiro. Na compra de 2 garrafas tive direito a mais um livro de José Bento dos Santos, "Subtilezas Gastronómicas". Dpois de estagiar oito meses em carvalho francês novo, com battonage, obteve-se um branco seco, com 15º. Dizem ser ideal para entradas com foie-gras, espargos e outros legumes, peixe e mariscos com especiarias, pratos de bacalhau e até algumas carnes de caça. Mas Alfredo Saramago, no prefácio do livro, diz que é um pecado misturar tão precioso néctar, pelo que recomenda que se beba a solo. Opção mais em conta o "Madrigal", do mesmo produtor e também Viognier.

Nos tintos fui ao Duero. Há dois anos atrás fiz para alguns amigos uma prova cega Alion 99 vs Chryseia 2000, e Valbuena Vega Sicilia 86 vs Barca Velha 85. Votaram unânimemente nos vinhos espanhóis. Como concordei comprei uma caixa de Alion e uma de Valbuena, da afamada casa Vega Sicilia, de 2000. Para provar e para guardar. Do Alion 99, um Tempranillo ( ou se quiserem Tinta Roriz) recordo a tosta de madeira a marcar os aromas e os matizes de frutos negros, num vinho poderoso e com um grande final. Ideal para pratos de bacalhau ou assados. É Natal, é Natal. O Valbuena é o mais modesto dos Vega Sicilia ( o Unico e o Unico Reserva Especial são inacessíveis). Tempranillo e Merlot, estagiando 2 a 3 anos em barricas inicialmente novas, passando depois a mais velhas, acabando a repousar em velhos tonéis. Depois de mais dois anos de estágio em garrafa é comercializado. Do 86 recordo o couro e o bosque, a cereja e a elegância de um vinho capaz de encher a alma.

No Porto a minha extravagância. Um Quinta do Noval Nacional de 64. Claro, o de 63 é que era mas custa 3000€. Também é bom lembrar que o 63 é um vinho mítico, a par do de 1931 considerado pela Wine Spectator o 3º melhor vinho do século ( à escala mundial). Será a primeira vez que irei provar o Noval Nacional, produzido nas únicas vinhas que resistiram à filoxera. Dificil de encontrar em Portugal, dado que a sua escassa produção ( 3000 garrafas) é quase total mente absorvida pelo mercado americano, está no El Corte Inglês à espera de quem o procurar. Depois vos contarei a experiência.

No Champanhe, o Pol Roger Brut Vintage 95, pois claro, foi a minha escolha.

Estão pois reunidos os néctares que nos irão proporcionar um Santo Natal. Só espero que o Rotavírus que me atacou no Natal 2005 não volte a fazer das suas.

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Tuesday, November 28, 2006

Africa Minha (1) Mala Mala

Na minha primeira visita à África do Sul, depois uma uma reclusão num Hotel em Sandton City ( a zona segura de Joanesburgo) entre duas conferências, apenas interrompida por uma ida a ao surreal Palace de Sun City, tive o prazer de conhecer o”bush”. Não o George W. mas o “mato”. Na Sabi Sand Game Reserve, junto ao Kruger Park.

A viagem entre Joanesburgo e o Kruger foi feita de carro. Pedi um 4x4, vieram entregar-me ao hotel um Toyota Corolla. Lá segui em busca das Lisbon Falls, do Blyde River Canyon e do Long Tom Pass. Aqui a paisagem seria fantástica mas o nevoeiro escondeu-a. E atrasou-me.

Quando cheguei à Sabi Sand Game Reserve deparei-me com uma estrada em terra batida, com grandes buracos. Como é habitual fora do país, a Cristina conduzia e eu era o navegador. Mas na terra batida a Cristina guiava a passo de caracol. Avistamos as primeiras impalas, gnus e zebras. Mas era tarde. Tínhamos o primeiro safari no Mala-Mala marcado para as quatro e meia e passava das quatro. Peguei no volante e pensei que era o Hannu Mikkola. Não tinha andado dois quilómetros e já tinha rebentado um pneu. No meio do mato. Na terra dos leões e leopardos. Elefantes e rinocerontes. Pensei, sair do carro é que não saio, o carro não é meu, que se lixe, são só meia dúzia de quilómetros, vamos mesmo com o pneu furado. Não fomos. A dada altura estava na jante.

O pneu suplente estava na mala. Com a Cristina de olho na bicharada tirei a bagagem e coloquei-a no banco de trás. Tirei o pneu, encostei-o na traseira do carro e peguei no macaco. Nessa altura passa um carro em sentido contrário. Para o deixar passar tive de descer a pequena encosta para encostar na berma. O condutor do outro carro perguntou: “You guys need help?”. Claro que como qualquer latino valente disse “No thank you”. Ele seguiu e a Cristina voltou atrás para apanhar o pneu. Baixei.me para levantar o carro com o macaco. Nisto ouço o grito lancinante da minha senhora. Pensei, estamos perdidos. Mas não era o leão. Era o pneu que resvalava encosta abaixo e fugia da Cristina. O macaco enterrava-se na terra e não levantava o carro. É então que passa uma carrinha com funcionários do Londolozi ( um outro hotel da reserva). Desta vez não hesitei e aceitei a ajuda. Levantaram o carro a peso e puseram uma enorme pedra por baixo do carro. E lá segui até ao Mala-Mala novamente como navegador.

Chegamos ao hotel eram quase cinco. Sujos. Feito o check-in disseram-nos para tomarmos calmamente um duche e irmos ter ao bar. Num cenário idilico serviram-me um chá com scones. Conheci o meu guia , o Chad. E um casal argentino que seguiria connosco no enorme Land Rover. Eram cinco e meia quando arranquei para o safari. Dez minutos depois quando olhava para uma impala ouvimos o rugido de um grande gato. Era um leopardo que já tinha o pescoço da impala entre os seus dentes.
As senhoras sentiram-se incomodadas. O estrangulamento ainda durou uns minutos. Depois o leopardo trepou uma árvore com a sua presa e ali ficou a descansar. Nós olhavamos para ele à sombra da mesma árvore.

Seguiram-se girafas, manadas de elefantes (um deles com meteorismo). Kudus, waterbucks, gnus e zebras. E três chitas que pareciam gatinhos ao sol.

Era já noite quando via rádio o Chad foi alertado para uma “pride” (alguém sabe a palavra em português?) de leões que caçavam. Lá fomos ter com eles. Mete respeito. Num jipe descapotável, com leões à direita e à esquerda, que só víamos quando os guias apontavam os focos. Acabaram por nada caçar e embrenharam-se no Kruger pelo que não os pudemos seguir. Voltamos ao quartos para jantar. Na boma com o Chad e os argentinos. Sem o requinte dos vizinhos Singita e Londolozi, alta cozinha servida ao ar livre no meio do mato, acompanhada por um Shiraz de Stellenbosch, excelente, e um Partagas Corona oferecido pelo argentino.

No dia seguinte acordamos às cinco da manhã e tomamos chá no quarto.
Enjoamos as impalas. Passamos pelo meio duma manada de búfalos e assistimos ao nascimento e aos primeiros passos de um bufalozinho.
Voltamos a ver as chitas e o leopardo. Uma leoa arreganhou-nos a taxa.

Voltamos para o pequeno almoço e fomos descansar para a varanda do quarto, uma vez que declinámos o safari a pé.
Depois de um almoço ligeiro e uma retemperadora sesta, novo safari. O ponto alto foi a investida de um rinoceronte mal disposto.
Enjoamos as zebras e os kudus. Os nossos olhos percorriam a selva à procura de predadores. Vimos hienas, wild dogs e chacais.

E javalis que correm de rabo espetado e se ajoelham para comer. Leões nem vê-los. As chitas sempre de papo para o ar. À noite fomos num Cabernet Sauvignon e um Cohiba Siglo IV do argentino.

Na manhã seguinte o Chad bateu na porta às cinco e disse que como chovia muito podíamos ficar no quarto. Ora essa. Então e os hipopótamos? Os argentinos ficaram a dormir. O Chad, contrariado mas sempre simpático, lá nos levou. E não é que vimos mesmo os hipópotamos? Pouco depois vimos as chitas a passear. Estavam à caça, disse o Chad. Viram um waterbuck, mas a carne sabe mal. As impalas estavam na outra encosta, sabíamos nós, as chitas não. Continuaram a busca. A chuva implacável. O Chad levava o Land Rover por cima de pequenas árvores para não as perdermos de vista. Até que chegou o momento. National Geographic ao vivo. Feita a aproximação as chitas lançaram a perseguição. Vertiginosa. 90km/hora. A impala tudo tentou. Mudanças de direcção, curvas e contracurvas. Com a lente de 400mm do João fiz fotos espantosas. Por entre algumas em que só apanhei árvores, tenho slides em que se vê a impala com os olhos esbugalhados, em desespero. E a chita, felina, toda no ar, com as patas no dorso da impala. Devoraram a presa em quinze minutos. Plenamente sincronizadas, sempre com uma a vigiar a aproximação de outros predadores que lhes pudessem roubar o alimento.
Saciadas, limparam o focinho sujo de sangue e foram-se deitar. Estávamos encharcados de água, mas satisfeitos. Diz o Chad que tivemos muita sorte. Não se lembrava de ter hóspedes que em apenas dois dias viram leopardo e chitas a matar. Já podíamos voltar ao hotel. Enregelados, mas com a alma bem quente. Da adrenalina.

Banho tomado, pequeno almoço e avioneta para Joanesburgo. Seguia-se o Cabo.

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Sunday, November 26, 2006

Arctic Monkeys



São a banda revelação de 2006. Quatro músicos com cara de meninos, que este ano deixaram de ser teenagers. Com o som british dos Kinks, a melodia dos Beatles, o sarcasmo dos Sex Pistols, a acidez dos Smiths, os hinos dos Oasis, o estrondo dos Libertines. Se os Strokes são de New York, os Arctic Monkeys são do Yorkshire. E vão dar que falar.



É ouvi-los.


E comprar o seu álbum de estreia. "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not", na amazon.uk, €13.25.

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DVDteca - Grandes Mestres do Cinema (16) Robert Altman

Robert Altman morreu esta semana. Nasceu em 20 de fevereiro de 1925, em Kansas City, nos Estados Unidos, que mais tarde retrataria em filme. Ingressou na Força Aérea Americana durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945 como co-piloto de um B-24.

Ao voltar da guerra, fez diversos documentários e filmes institucionais de treino e propaganda. Em1955, Altman dirigiu o filme independente Os Delinqüentes (1957) e o documentário The James Dean Story. Realizou algumas séries de TV mas o sucesso de Altman chegou com MASH (1970) , aclamado pela crítica americana, história de uma equipa médica durante a Guerra da Coréia. Como música tema para o filme escolheu uma composição do seu filho de 14 anos, Suicide is Painless. Ganhou a Palma de Ouro em Cannes e teve a sua primeira nomeação para o Oscar.

Altman tinha um estilo único de filmar, evidente em trabalhos como "Images "(1972) e "Nashville" (1975).Com uma visão crítica da sociedade americana patente nas suas produções, filmava histórias cruzadas, como "Short Cuts", que inspiraram Paul T. Anderson ("Magnolia") e Paul Haggis ("Crash"). Do western ( "McCabe and Mrs. Miller" e "Buffalo Bill...") ao thriller ("The Long Goodbye" adaptando Chandler, e o vitoriano "Gosford Park") passando pela comédia, ( "Dr. T and the women"), o jazz ( "Kansas City") e o country ("Nashville") ou adaptando Sam Shepard ("Fool for Love") Altman construi uma obra que lhe valeu 5 nomeações para o Óscar de melhor realizador, uma Palma de Ouro e Melhor realizador em Cannes, e o Leão de Ouro 96 e o Óscar Honorário 2006 como prémios de carreira.


Para mim o seu melhor filme é "The Player". Desde logo pelo plano de abertura , sublime e brilhante, até ao final introspectivo. O filme é genial na irreverência e na crítica mordaz ao "stablishment" de Holywood. Que recusou financiar o filme, mas depois se degladiou para o distribuir.

Baseado na novela de Michael Tolkin "The Player" é centrado em Griffin Mill (um até aí desconhecido Tim Robbins), produtor sem escrúpulos, que acaba por assassinar um obscuro argumentista e se apaixona pela sua mulher (Greta Scachi). Mas é na periferia do filme que a acção flui. Griffin recebe propostas para novos filmes. Propostas bizarras como "The Graduate, Part 2," Ben e Elaine 25 anos depois vivendo com Mrs. Robinson. Ou “It's Ghost meets The Manchurian Candidate”. Todos eles teriam Julia Roberts como protagonista. Retratando a vida dos estúdios é com naturalidade que vemos desfilar ínumeras estrelas representando-se a eles próprios. Lily Tomlin , Cher, Nick Nolte, Anjelica Huston, John Cusack,Marlee Matlin, Bruce Willis, Jeff Goldblum, Harry Belafonte, Andie MacDowell, Burt Reynolds, Lily Tomlin, Jack Lemmon, entre tantos outros.

Parábola sobre o pecado em Hollywood, o filme mostra que o verdadeiro crime não é o assassinio mas o produzir um flop .Filme cínico, cáustico e divertido, é brilhante e um prazer ver Altman dissecar com imperceptiveis cortes de navalha o seu alvo, ("o sistema" diriam os sportinguistas") . O sangue é subliminar, a dor disfarçada pela realização. O filme flui como um fresco, sem fio condutor, apesar de centado no encontro de Griffin com o destino, umas vezes como semideus, outras como peregrino amoral. Imperdível.

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Friday, November 17, 2006

Sleepless in Seattle

Ao recordar Seattle não evoco o arquétipo da comédia romântica do par Hanks/Ryan, mas os bares da 2nd Avenue que percorri com um carimbo na mão, bandas com batidas pesadas e duros riffs, com camisas de flanela e jeans, que mimetizavam os Nirvana e os Pearl Jam, que antes tocavam naqueles mesmos clubes. Grunge eram.




Kurt Cobain canta a minha música preferida de David Bowie

Em Seattle nasceram a Boeing, a Starbucks, o Nordstrom e Bill Gates. Que fundou a Microsoft do outro lado do Lake Washington. Recordo as casas nas margens do lago, carro à porta e barco na água. Qualidade de vida. Serena.


E o cheiro do peixe fresco e das flores do Pike Place Market.
As ostras nos restaurantes do Waterfront. E o sabor dos salmões selvagens. A Space Needle. Os passeios de barco na Elliot Bay. As baleias nas San Juan Islands. O jetlag e o nervoso miudinho da primeira palestra nos Estados Unidos.


E a excursão a Victória e Vancouver. Os "Butchart Gardens". E a reentrada triunfal nos USA sem parra na fronteira. Que valeu uma discreta perseguição por quatro carros da polícia, que 60km depois da fronteira me pararam e apontando lanternas e pistola para o interior do carro dispararam (a pergunta,claro): "Do you guys have guns?". E nós, all apologies.



Inesquecivel.

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Brevemente

"The Departed", o último Scorsese é um dos grandes candidatos aos Óscares 2007. Mas não está só na corrida. E tal como em 2004 quem poderá roubar a há tanto merecida consagração a Marty é Clint Eastwood com "Flags of Our Fathers".



A história à volta duma fotografia que ajudou a vencer uma guerra. E o filme que consagra Ryan Philippe como uma estrela emergente. Mas os dois não estão sós na corrida. Neste post o MarioM. recorda com saudade as matinés de antanho. Lembro-me que nesse tempo a 1ª parte era ocupada com o documentário e as apresentações. Que mais tarde deram origem ao Brevemente. Ora aí está. A apresentação dos que brevemente serão candidatos aos Óscares 2007, e mais tarde estrearão entre nós. E, se fosse nos tais tempos de antanho, estreariam uns anos mais tarde no Cine-Mar.

Vamos pois "let's look at the trailer".



"The Good Sheperd" de De Niro com Matt Damon, Angelina Jolie e William Hurt
A pré-história da CIA




"Goya's Ghosts" de Milos Forman com Stellan Skarsgård, Natalie Portman e Javier Bardem
Biopic de Goya entre a inquisição e as invasões francesas



"The Good German" de Soderbergh com G. Clooney,Cate Blanchett e Tobey Maguire
Thriller a preto e branco na Berlim pós guerra.



"All the Kings Men" de S. Zaillan com Sean Penn, A. Hopkins e Jude Law
Penn numa interpretação que lhe pode valer o segundo Óscar



"Bobby" de Emilio Estevez, no assssinato de Bob Kennedy com uma parada de estrelas: A.Hopkins, W.H.Macy, Elijah Wood,Demi Moore, Sharon Stone, Martin Sheen, Helen Hunt, Christian Slater, Lawrence Fishburn



"The Painted Veil" de John Curran com Edward Norton e Naomi Watts
Romance épico numa remota e belíssima China.



"Zodiac" de David Fincher com Jack Glynehaal eR. Downey Jr.
Fincher ("Seven") volta ao thriller sobre um serial killer



"Babel" de Alejandro G.Inarritu,com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal
Inarritu ("21 Grams") em história paralelas que acabam por se cruzar sobre a condição humana



"Breaking and Entering" de Anthony Minghela com Jude Law e Juliette Binoche
Minghela reencontra Jude Law ("Mr. Ripley" e "Cold Mountain") e Binoche ("English Patient") num thiller de atracção fatal

Pela amostra se anuncia um 2007 com grandes filmes. Falta na lista o último Coppola ( "Youth without Youth" ) pois não é certo que estreie a tempo de ser candidato. Segue imediatamente.

Thursday, November 16, 2006

Madrid com a Ryanair


Madrid está agora mais perto. É já a 22 de Novembro que a Ryanair inicia a ligação Porto/Madrid. Para os que estavam cansados de voar no "Rola". Voos desde 0.01€. Mais taxas.

Uma boa oportunidade para visitar Madrid é de 15 a 18 de Fevereiro. Feitas as reservas hoje na Ryanair por umpreço total de 108.76€, ida e volta para duas pessoas.


Nesse fim de semana decorre a ARCO, uma das maiores mostras de Arte Contemporânea à escala global, que atrai à capital espanhola centenas de galeristas de todo o mundo. Importante também a representação dos galeristas portugueses que na edição de 2006 fizeram grandes destaques e conseguiram reconhecimento internacional. Sobretudo a galeria Mário Sequeira que conseguiu colocar uma obra de Luís Coquenão na capa da revista do El Pais dedicada ao evento.




Tempo ainda para um salto ao Thyssen Bornemisza para ver a exposição "O Espelho e a Máscara: o Retrato na Era de Picasso", que reúne obras de Picasso, Gauguin, Van Gogh, Dali, Bacon, Wahrol.

Para os amantes do futebol impõe-se uma visita ao Bernabéu, para assistir ao embate do Real Madrid com o Bétis de Sevilha. Por uma semana perdem o embate de Quaresma com Robinho. Em Manzanares, no derby Atlético-Real.

À noite recomenda-se jantar no "La Broche" ou no "Saint Celoni" (cozinha criativa) ou no galego "Combarro", peixe e marisco fresquíssimo.

Ou umas tapas em muitos dos bares da Plaza de Santa Ana indicados para quem quer ver os musicais "We Will Rock You" ou "Mamma Mia".


Para pernoitar a minha escolha é o Puerta America, hotel delirante, de design futurista.


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Wednesday, November 15, 2006

Grey's Anatomy

Estreou hoje na RTP a premiada série "Grey's Anatomy". Mais uma a explorar o filão da vida nos Hospitais. Retrata a vida dos médicos internos de cirurgia num Hospital da belíssima cidade de Seattle, terra de muita chuva, muito mar e dos Nirvana. Os internos, para quem não sabe são os médicos que estão a completar a sua formação como médicos especialistas. Nos USA chamam-se "residents". Porque mutas vezes residem literalmente no Hospital, dormindo em residências no recinto do próprio hospital. Em regime de dedicação total, numa luta diária pela aprendizagem e o curriculum. Como é bem retratado na série. Que se recomenda.



Na amazon.uk já se pode comprar a caixa da "season one". E as duas primeiras de "House", outra excelente série que passa na Fox e na TVI. Com o improvável Hugh Laurie, parceiro de Mr. Bean em Blackadder no papel de um médico especialista em doenças infecto-contagiosas, que desvenda os mais intrincados casos clínicos. Durante as férias que recentemente passei em Espanha, o Chelsea foi empatar a Barcelona. Os catalães não gostaram nada dos festejos de Mourinho. A imprensa catalã chamou-lhe de tudo. A de Madrid comparou-o ao Dr. House. Genial com mau génio.

Mas a série que eu gostava mesmo que as nossas TV estreassem era "Lucky Louie", comédia da HBO, que morreu ao 12º episódio. Humor talvez demasiado corrosivo o de Louis CK. Aqui vos deixo algumas pérolas.



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Friday, November 10, 2006

All That Jazz

Por estes dias o jazz fervilha em Portugal. Em Guimarães decorre o festival. Grandes nomes como Charlie Haden, Wayne Shorter, Marc Copland passa(ra)m pelo Centro Cultural Vila Flor. Hoje é a vez de um dos meus pianistas preferidos, Abdullah Ibrahim aka Dollar Brand ( antes da conversão ao Islão).



Amanhã, em Lisboa não é um, é O. O pianista. Keith Jarret. Que chega acompanhado por Gary Peacock e Jack DeJohnette ("O" baterista) . Com quem gravou os fabulosos "Standards". Como este "My Funny Valentine". Fabuloso ao vivo, mestre da improvisação, são célebres alguns dos seus concertos. Koln, Tokio, Blue Note. Imperdível. É caso para perguntar: quando é que este homem vem tocar ao Porto?

Ao Porto vem o pianista favorito de Miles Davis. Vem apresentar o disco duplo "The Essential Herbie Hancock", colectânea das suas melhores gravações na Warner, Blue Note, Columbia e Verve.



Herbie Hancock e Freddie Hubbard : Cantaloupe Island

Hancock oscila entre a genialidade de uma criança de 11 anos, que se estreou (em 1951) como solista de Mozart da Sinfônica de Chicago à normalidade de um pianista acompanhante de grandes astros pop. Claro que Hancock é bem melhor quando coloca seu talento de compositor e arranjador a serviço do jazz. É dele uma das grandes bandas sonoras de filmes do género: a de "Round Midnight" de Bertrand Tavernier, que junta com propriedade standards e temas originais.

Vem acompanhado do baixista Matt Garrison, da baterista Terri Lyne Carrington e do saxofonista Chris Potter. Relatos da tournée dizem que serão tocadas apenas oito músicas num concerto de 90 minutos. Hancock percorre peças de suas fases mais distintas, passando pela influência do blues de início de carreira com o super sucesso "Cantaloupe Island" e "One Finger Snap", caminhando sobre o explosivo eletrofunk dos anos 1970 de "Chameleon", até alcançar o minimalismo experimental dos anos 1990 de "Sonrisa". Trás novas versões para "Maiden Voyage" e "Dolphin Dance", duas obras emblemáticas gravadas originalmente no álbum "Maiden Voyage", de 1965, com o apoio do trompetista Freddie Hubbard e do saxofonista George Coleman e encantadas por uma atmosfera cool da época mais promissora da Blue Note.

Será um concerto agradável, fácil de ouvir mesmo para os não amantes do jazz, que por certo reconhecerão muitas das músicas, que polvilham inúmeros filmes. Despachem-se porque a Casa da Música está quase esgotada.

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TABLES DU MONDE (16) La Alqueria

Uma vez que a Cala Montjoi ( a 170 km de Barcelona) fica fora de mão, quem quiser provar as criações do “melhor chef do mundo” tem de ir à Hacienda Benazuza, ao Alqueria. Dirigido por Rafa Morales no Alqueria (2 * Michelín) degusta-se um menú surpresa composto pelas obras primas de Ferrán Adría e do el Bulli dos últimos anos. Fruto da seu génio e tecnologia.

Recordo a abrir num dos jantares um mágico gin fizz quente e frio, e noutro uma infusão com nitrogénio gelado de caipirinha. Nas entradas os marshmalows de parmesão e os crocantes de “Oreos” com azeitona preta e iogurte.



E o ravioli gelado de anis com toffee, mistura de doce com salgado, numa composição curiosa e de grande beleza.

A desconstrução do "pan con tomate" catalão, biscoito recheado com azeite e alho e sorvete de tomate. E o que dizer do melão grelhado com tomate em redução de balsâmico. Impar.

E a "minestrone de verduras , fabulosa.

Menu bizarro, com muito humor, trabalho infernal movendo o nosso palato em redor de diferentes sabores, texturas, acidez, viscosidade, calibrando o paladar para o que se seguia.

Da segunda ronda de tapas lembro um crisp de ibérico, o sorvete de pistachio e trufa, e o fabuloso ravioli de ervilha com salada.

E que dizer do “falso” caviar de meloa, servido em latas de caviar. “Ovas” produzidas depois de vaporizar a meloa, que logo condensa gota a gota, num apetrecho especialmente criado para este prato. E depois explodem no nosso palato.

Noutro jantar encantaram os ravioli de beterraba com pistachio e framboesa.


Seguiram-se os clássicos Tagliatelle de consomé à Carbonara, um dos pratos mais celebrados de Adrià, pela tecnologia e criatividade.


A santola com horchata de trufas, ou as migas com trufas de verão , os Camarões Tigre com parmesão e a Ventresca de Atum com cassis e eucalipto, casamento original, mas de uma harmonia perfeita..



Noutro dia, o prato principal foi um simples bife do lombo com uma redução de vinho tinto que o Manuel ainda anda à procura de encontrar apesar das inúmeras tentativas com a receita encontrada nos livros de Adrià. E um sargo suculento, com uma textura e sabor únicos.

As sobremesas eram na mesma linha, destacando-se a crema catalana com limão e o caviar de chocolate.


Beberam-se vinhos de Priorat, o Clos Mogador e o Finca Dofi, soberbos.

Mais do que uma refeição, comer nos restaurantes de Adrià é uma celebração. Da cozinha e da comida, da creatividade e arte. Se Alain Ducasse é bebop, Adrià é freejazz. Se as lulas recheadas do Mário são Boticceli, Adrià é Rothko. Ou a sinestesia de Kandinsky. É uma experiência única, enriquecedora, mas que exige uma mente aberta. Para quem a tem jantar no Alqueria é uma fiesta. Divertimento e prazer. Àlvaro de Campos diz que “a melhor maneira de viajar é sentir”. Com Adrià viajamos pelos sentidos. Proibidos. Únicos.

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